· Dois principais eventos provocaram uma correção generalizada nos preços
de ativos na semana passada, com maior intensidade sobre as bolsas de
valores: mercado de crédito imobiliário dos EUA e bolsa da China;
· O mercado de empréstimos imobiliários norte-americano pode continuar a
trazer mais notícias negativas;
· Sinal do governo chinês de medidas administrativas para conter
especulação em bolsa de valores gera movimento temporário de realização
em mercados de renda variável ao redor do mundo;
· Preços no Japão mostram ausência de inflação e reforçam percepção de
juros baixos por um longo período de tempo;
· Na Europa, inflação corrente bem comportada e M1 em expansão mais
contida podem ser primeiras evidências de um cenário mais benigno para
inflação futura. Por outro lado, os dados de atividade econômica
permanecem fortes.
Na última semana, dois principais eventos provocaram uma desvalorização
generalizada dos preços dos ativos ao redor do mundo, atingindo com maior
intensidade as bolsas de valores e gradualmente se espalhando para
spreads de títulos soberanos e corporativos, moedas e preços de
commodities.
As notícias negativas em relação ao mercado de crédito imobiliário dos
EUA para credores de risco mais elevado, o chamado mercado subprime,
ganharam destaque nas últimas duas semanas. Esse mercado representa cerca
de 13% do estoque de crédito imobiliário para as famílias dos EUA (que
gira em torno de US$ 9,5 trilhões). A reação foi desencadeada pelo
aumento da inadimplência nessa modalidade de crédito e diversos problemas
decorrentes que começaram a ter impacto sobre as empresas que atuavam
nesse setor. Tais empresas começaram a anunciar deterioração da qualidade
de crédito de suas carteiras, perdas superiores ao esperado e a aumentar
a provisão para ativos duvidosos. As ações dessas empresas sofreram
fortíssimas perdas. Nos EUA, a maior parte do crédito imobiliário é
originada por certas empresas, securitizada e vendida nos mercados
secundários para investidores.
No caso da preocupação com os efeitos das medidas administrativas do
governo chinês para evitar a formação de uma bolha no mercado de ações
local temos de qualificar alguns pontos:
1 – O mercado de ações local é relativamente pequeno em relação ao PIB
chinês (em torno de 20%, contra mais de 150% nos EUA e mais de 130% no
Japão, por exemplo).
2 – Há grande restrição à operação de estrangeiros com ações do tipo A
(representam 90% do mercado chinês e são denominadas na moeda local) e
todas as licenças a instituições estrangeiras para operarem neste mercado
somadas não chegam a U$ 20 bilhões (contra maket capitalization de mais
de U$ 1 trilhão).
3 – As medidas sinalizadas pelo governo vão no sentido de aumentar a
fiscalização para conter fraudes e controlar excesso de alavancagem de
pessoas físicas neste mercado (já havia operações de financiamento em
cartão de crédito para compra de ações na euforia com a alta nos valores
das ações). Entretanto, medidas mais drásticas de aumento de taxação
sobre lucros neste mercado, que puniriam mais os investidores, foram
descartadas pelo governo.
4 – Índice de P/L1 atual na China (em torno de 33 vezes) não difere muito
do encontrado em 2003 e 2004 nestes mercados (não há sinal ainda de
sobrevalorização dos ativos). Se considerarmos a rápida expansão da
economia chinesa e dos lucros corporativos, por conseguinte, a manutenção
dos preços atuais implica em convergência para padrões de P/L mais
moderados e consistentes com o padrão dos mercados maduros (em torno de
20 vezes).
Apesar das medidas restritivas evidentemente conterem ritmo de ingresso
de novos fluxos para as ações locais, isto deve implicar, no médio prazo,
mais em refreamento de novas altas aceleradas do que em um processo de
queda acentuada das ações chinesas (pois os fundamentos de rentabilidade
elevada devem permanecer).
Mesmo na hipótese mais negativa de queda mais pronunciada das ações, os
efeitos sobre a riqueza dos consumidores seria limitado pelo tamanho
restrito do mercado e os efeitos secundários sobre os mercados
internacionais (com perdas de grandes investidores internacionais e
realocação de portfólio por conta disto) deve ser limitado pela pequena
presença de investidores estrangeiros no mercado acionário chinês.
Desta forma minimizamos a possibilidade de que apenas as medidas de
fiscalização anunciadas até aqui tenham efeitos mais permanentes sobre a
economia real chinesa e sobre os mercados financeiros internacionais
(apesar de reconhecermos que, em conjunto com outras incertezas, este
evento pode ter seus efeitos amplificados por algum período).
terça-feira, março 06, 2007
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