quarta-feira, setembro 20, 2006

Funcionário do Mal


Este tema foi desenvolvido por Carlos Hilsdorf, economista pós-graduado em
marketing pela FGV. Escreveu o livro Atitudes Vencedoras.
Tema interessante, mostrando os conflitos dentro de uma organização. A
raiva põe em risco uma ação empresarial - e pode acabar com o talento de
muitos profissionais
Toda estratégia necessita de pessoas que irão materializá-la sob a forma
de atitudes. Sua implantação e resultados dependem diretamente do
comportamento dos profissionais envolvidos em sua execução e das reações
daqueles que compõem o mercado. Aí começa um grande desafio porque as
pessoas não agem apenas racionalmente, mas são movidas também por
sentimentos e emoções. Dentro do vasto repertório dos sentimentos e
emoções, alguns capítulos merecem especial atenção na gestão de pessoas e
negócios - entre elas a raiva.
A raiva é a causadora do maior parte dos boicotes e dificuldades na
implantação das estratégias e do sucesso do trabalho em equipe. É bastante
comum a expressão "fulano está morrendo de raiva". Ela revela uma verdade
profunda sobre indivíduos e empresas. Nem todos os caminhos de expressão
da agressividade são nocivos, mas a raiva é especialmente perniciosa tanto
àquele que a nutre quanto aos que serão alvo das suas repercussões.
No ambiente de trabalho a raiva costuma ser parte de um fenômeno maior
como a síndrome de burnout, o agonismo (termo derivado da observação do
comportamento animal caracterizado por agressão, defesa e evitação) e
alguns tipos de depressão. Os desequilíbrios ocasionados pela raiva vão
desde o nível bioquímico, refletindo-se no equilíbrio de músculos e
órgãos, até os níveis intelectuais e espirituais interferindo na qualidade
de vida.
Pesquisas recentes realizadas nos Estados Unidos refletem bem os efeitos
nocivos da raiva sobre os negócios.
Uma delas procurou descobrir qual a causa que estava por trás de um
gigantesco turnover de jovens que, por iniciativa própria, estavam
deixando as empresas. O resultado dessa pesquisa pesquisa revelou que os
jovens não estavam deixando as empresas, mas sim deixando seus chefes. Na
imensa maioria, esses jovens sentiam raiva dos seus superiores. Outra
recente pesquisa demonstrou que a raiva no trabalho não é um mito, e sim
uma doença. Nesse estudo, 12% dos trabalhadores afastaram-se do trabalho
devido a esse mal. Estresse, angústia e sofrimento são alguns dos sintomas
observados nas pessoas que enfrentam esse processo.
A RAIVA É RESPONSÁVEL PELA MAIOR PARTE DOS BOICOTES E DIFICULDADESNA
IMPLANTAÇÃO DAS ESTRATÉGIAS DE UMA EMPRESA. E DO SUCESSO DO TRABALHO EM
EQUIPE.
Diversos estudos brasileiros afirmam que, logo após as doenças
osteomusculares, a segunda causa que mais conduz a desligamentos e
afastamentos do trabalho é representada por desordens psíquicas do tipo
estresse, depressão, síndrome de burnout, esquizofrenia etc. Observe que
músicos ensaiam dez ou mais horas por dia e não desenvolvem tendinites com
a freqüência que um número bem menor de horas diárias causa no ambiente
corporativo. De onde viria esta diferença? Esses músicos ensaiam horas e
horas por prazer e, embora concentrados, estão com sua musculatura
relaxada realizando apenas os esforços necessários para a execução de suas
partituras. No ambiente corporativo há alta pressão. Resultado: um enorme
número de pessoas trabalha com raiva. Essa raiva causa tensão, que
favorece as contraturas musculares, principais causadoras das tendinites -
e grandes aliadas da hipertensão.
Nossos gestores precisam estar atentos para não incorrer no equívoco de
permitir ambiente propício ao incremento da raiva. Dentro da sociedade do
conhecimento devemos tornar o trabalho uma fonte de prazer e de
realização. Há muito a medicina já diagnosticou que na base de uma imensa
maioria de doenças psíquicas encontra-se a raiva. Níveis maiores de raiva
são grandes desinvestimentos no nosso negócio e carreira e profundos
investimentos na concorrência, com o agravante de não aparecerem nas
nossas planilhas, nem na contabilidade, sendo, freqüentemente, até mesmo
desconsiderados.
As agressões derivadas da raiva não precisam ser explícitas e podem
ocorrer tanto de forma verbal quanto não-verbal: desprezar pontos de
vista, não ouvir as pessoas, subestimar a inteligência delas, e suas
contribuições, interromper prematuramente suas exposições, manter uma
postura de superioridade, não reconhecer devidamente o desempenho de um
subordinado - todas essas atitudes são poderosas formas de agressão e
incitação da raiva. Indivíduos sobre pressão, principalmente quando se
sentem ameaçados, acabam utilizando a raiva como mecanismo de defesa. Daí
quanto mais raiva mais boicotes. A falta de foco na gestão emocional de
times e equipes e a abordagem superficial do clima e atmosfera
organizacional estão fazendo com que muitas empresas sintam outro tipo de
raiva - a de ver seus funcionários migrarem para a concorrência.

Nenhum comentário: